Se você é pai, mãe ou cuida de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), provavelmente já viveu a busca incansável por tratamentos que possam melhorar a qualidade de vida do seu filho. Entre as várias opções que têm surgido nos últimos anos, o canabidiol (CBD) – um composto extraído da planta Cannabis que não causa “barato” ou alterações de consciência – vem ganhando atenção e gerando muitas dúvidas. Neste artigo, vamos conversar de forma clara e sincera sobre o que sabemos até agora, sem promessas milagrosas, mas com informações práticas para ajudar você a tomar decisões informadas.
O Que é o CBD e Como Ele Pode Ajudar?
O canabidiol é apenas um dos mais de 100 compostos encontrados na planta Cannabis. Diferente do THC (outro composto famoso da mesma planta), o CBD não causa efeitos psicoativos – ou seja, não deixa ninguém “chapado”. Isso é um ponto importante, principalmente quando falamos do uso em crianças.
Nosso corpo possui um sistema chamado “endocanabinoide”, que funciona como um grande regulador de várias funções importantes: sono, humor, inflamação e até mesmo comportamentos sociais. Alguns pesquisadores acreditam que crianças com autismo podem ter alterações nesse sistema, e é aí que o CBD poderia ajudar, funcionando como um tipo de “ajustador” dessas funções.
Em quais aspectos do autismo o CBD parece ajudar?
Com base nos estudos feitos até agora e relatos de famílias, o CBD tem mostrado potencial para melhorar:
- Crises de comportamento e irritabilidade: Muitos pais relatam que seus filhos ficam mais calmos e as explosões de raiva diminuem.
- Ansiedade: A sensação constante de desconforto e nervosismo que muitas crianças com TEA sentem pode ser reduzida.
- Problemas de sono: Melhor qualidade de sono significa mais descanso para a criança e para toda a família.
- Comportamentos repetitivos: Alguns estudos mostram redução nas estereotipias (movimentos repetitivos) e fixações.
- Hiperatividade: Muitas crianças conseguem ficar mais focadas e menos agitadas.
O Que Dizem os Estudos Reais (Sem Exageros)
É importante ser honesto: a pesquisa sobre CBD e autismo ainda está no começo. Os estudos existentes são promissores, mas ainda pequenos e recentes.
Um estudo realizado em Israel acompanhou 188 crianças e adolescentes com autismo que usaram um óleo à base de CBD por seis meses. Os resultados mostraram que aproximadamente 80% dos pais notaram melhoras no comportamento geral, com menos crises e maior capacidade de concentração.
Outro estudo brasileiro, publicado na revista Frontiers in Neurology, acompanhou 18 pacientes com autismo usando CBD e encontrou melhoras na atenção, comportamento social e sono.
Vários outros estudos estão acontecendo agora em universidades e centros de pesquisa ao redor do mundo, incluindo no Brasil, o que significa que teremos mais informações nos próximos anos.
Experiências de Famílias: O Que Outros Pais Relatam
Muitos pais relatam mudanças significativas após iniciar o tratamento com CBD:
“Depois de três semanas usando o óleo, meu filho de 8 anos começou a dormir a noite toda pela primeira vez. Ele também parece mais presente durante as terapias.” – Relato comum entre famílias.
“As crises de agressividade diminuíram muito. Antes era quase diário, agora são raras. Não é uma cura, mas melhorou nossa qualidade de vida como família.” – Experiência compartilhada por muitos pais.
No entanto, é importante lembrar que cada criança é única – o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Algumas famílias não percebem diferenças significativas, enquanto outras observam melhorias dramáticas.
Segurança: É Confiável Usar em Crianças?
Esta é, naturalmente, a maior preocupação de qualquer pai. Os estudos realizados até agora indicam que o CBD é geralmente bem tolerado por crianças, com efeitos colaterais considerados leves na maioria dos casos. Os mais comuns são:
- Sonolência (especialmente no início do tratamento)
- Alterações no apetite
- Diarreia ocasional
- Boca seca
A boa notícia é que esses efeitos costumam ser temporários e diminuem com o ajuste da dose. Diferente de muitos medicamentos psiquiátricos usados no autismo, o CBD raramente causa problemas mais sérios como ganho excessivo de peso ou alterações metabólicas.
No entanto, um ponto crucial: o CBD pode interagir com outros medicamentos que seu filho já use, especialmente anticonvulsivantes. Por isso, é absolutamente essencial que o uso seja supervisionado por um médico que conheça tanto o CBD quanto o histórico completo do seu filho.
Como Conseguir e Usar o CBD no Brasil: Questões Práticas
No Brasil, o acesso ao CBD para fins medicinais é legal, mas requer alguns passos importantes:
1. Consulta médica especializada
Procure um médico que tenha experiência com cannabis medicinal. Pode ser o neurologista, psiquiatra ou pediatra do seu filho, desde que ele tenha conhecimento sobre o assunto. Se o médico atual não se sentir confortável, peça um encaminhamento para um especialista.
2. Opções de acesso ao CBD
Após a avaliação e prescrição médica, você tem algumas opções:
- Medicamentos registrados na ANVISA: Existem medicamentos à base de CBD já aprovados no Brasil pela ANVISA.
- Importação: É possível importar produtos à base de CBD com autorização da ANVISA. O médico pode ajudar com a documentação necessária.
- Associações de pacientes: Algumas associações produzem óleo de CBD a custos mais acessíveis para famílias cadastradas.
- Produtos manipulados: Algumas farmácias de manipulação já produzem formulações com CBD mediante receita médica.
3. Dosagem e administração
A dosagem ideal varia muito de criança para criança. Geralmente, os médicos recomendam começar com doses baixas e aumentar gradualmente até encontrar a quantidade que traz benefícios sem causar efeitos colaterais.
O CBD geralmente vem em forma de óleo, que pode ser:
- Colocado embaixo da língua
- Misturado com alimentos ou bebidas
- Administrado com conta-gotas
4. Monitoramento regular
É fundamental acompanhar como seu filho responde ao tratamento. Alguns pais mantêm um diário anotando comportamentos, padrões de sono e outros aspectos importantes para compartilhar com o médico nas consultas de acompanhamento.
O CBD Não Substitui Outras Terapias
Um ponto que não podemos deixar de enfatizar: o CBD não é uma substituição para as terapias tradicionais que já mostraram benefícios para crianças com TEA. Ele deve ser visto como um complemento que pode potencializar os resultados de:
- Terapia ABA
- Fonoaudiologia
- Terapia ocupacional
- Psicoterapia
- Atividades físicas adaptadas
- Educação especializada
As famílias que relatam os melhores resultados são aquelas que integram o CBD a um programa terapêutico completo, mantendo todas as outras intervenções importantes.
Conversando com o Restante da Família Sobre Essa Decisão
Decidir usar CBD pode gerar opiniões divergentes na família extensa e até mesmo entre os pais. Alguns pontos importantes para essa conversa:
- Compartilhe informações científicas, não apenas opiniões
- Explique a diferença entre CBD medicinal e maconha recreativa
- Mostre a prescrição e orientação médica
- Convide familiares próximos para uma consulta, se possível
- Respeite o tempo que as pessoas precisam para entender e aceitar novas possibilidades
Perguntas para Reflexão
- Quais sintomas do meu filho mais afetam seu bem-estar e o da nossa família? O CBD tem mostrado resultados para esse tipo específico de dificuldade?
- Como posso avaliar de forma objetiva se o CBD está realmente ajudando? Quais mudanças observáveis devo monitorar no comportamento, sono e bem-estar geral do meu filho?
- Estou preparado para ter um diálogo aberto com a escola, terapeutas e outros familiares sobre essa decisão de tratamento? Como posso reunir informações confiáveis para essas conversas?
Fontes
- Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis Sativa (SBEC)
- Aran, A. et al. (2019). “Brief Report: Cannabidiol-Rich Cannabis in Children with Autism Spectrum Disorder and Severe Behavioral Problems—A Retrospective Feasibility Study.” Journal of Autism and Developmental Disorders.
- Fleury-Teixeira, P. et al. (2019). “Effects of CBD-Enriched Cannabis sativa Extract on Autism Spectrum Disorder Symptoms: An Observational Study of 18 Participants Undergoing Compassionate Use.” Frontiers in Neurology.
- Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA+ME)
- Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID)
Advertência
Este artigo contém informações gerais e não substitui o acompanhamento médico especializado. Nunca inicie o uso de CBD ou qualquer tratamento sem orientação profissional. Cada criança com autismo possui necessidades únicas que devem ser avaliadas individualmente por profissionais qualificados.


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