Você já se viu sem saber como lidar com comportamentos que parecem fugir do controle? Agressividade constante, mentiras repetidas, regras ignoradas — tudo isso pode deixar qualquer família ou educador exausto e sem respostas
O transtorno de conduta infantil é mais comum do que muitos imaginam e afeta não só a criança, mas todos ao seu redor. A boa notícia: entender o que está acontecendo é o primeiro passo para transformar essa realidade. E não, isso não significa que você falhou como pai, mãe ou educador.
Aqui, vamos traduzir o que a ciência sabe sobre o tema em orientações práticas, sem julgamentos. Prepare-se para sinais concretos, dicas que funcionam de verdade e clareza sobre quando pedir ajuda.
O que é o Transtorno de Conduta
Vamos direto ao ponto: o transtorno de conduta não é “manha” nem “falta de educação”. Estamos falando de um diagnóstico real, reconhecido pela psiquiatria, em que a criança apresenta padrões sérios e repetidos de comportamento — coisas que vão além da birra ocasional ou da desobediência típica da idade (Scott, 2019).
Estamos falando de:
- Mentiras frequentes e calculadas
- Agressões físicas ou verbais contra colegas, irmãos ou adultos
- Destruição intencional de objetos (seus ou de outros)
- Furtos, mesmo sem necessidade
- Fugas de casa ou faltas escolares injustificadas (antes dos 13 anos)
Para que o diagnóstico seja considerado, pelo menos três desses comportamentos precisam acontecer com frequência, ao longo de seis meses ou mais. Não é um episódio isolado — é um padrão.
De onde vem isso? Entendendo as raízes
Não existe uma causa única. O transtorno de conduta nasce de uma combinação de elementos — alguns que podemos controlar, outros nem tanto.
Entre os principais fatores estão:
Na esfera familiar e social:
- Conflitos constantes em casa ou disciplina que varia demais (ora muito rígida, ora permissiva)
- Pobreza, violência no entorno e falta de supervisão adequada
- Histórico de abuso ou negligência
Na esfera biológica e individual:
- Genética (sim, existe componente hereditário)
- Dificuldades escolares não tratadas
- Distúrbios de linguagem ou atrasos no desenvolvimento
O importante aqui? Saber que culpa não ajuda ninguém. Identificar fatores de risco serve para agir, não para procurar culpados (Scott, 2019).
Como identificar: sinais que não dá para ignorar
Preste atenção quando:
- A agressividade vira rotina — não é só uma briga no recreio; é um padrão de violência verbal ou física
- Mentir se torna automático — e a criança parece não sentir remorso ou culpa
- Objetos são destruídos de propósito — o próprio material escolar, brinquedos dos irmãos, coisas da casa
- Crueldade aparece — seja com colegas, irmãos menores ou até animais
- Fugas ou faltas escolares se repetem — especialmente antes dos 13 anos
Atenção redobrada se esses comportamentos acontecem em casa E na escola. Quando o padrão atravessa ambientes, é sinal de que não se trata de um problema pontual.
O que a ciência já confirmou vs. O que ainda precisa de mais respostas
O que já sabemos (e funciona):
- Intervenções que envolvem família e escola, juntas, trazem resultados reais
- Disciplina positiva (que ensina, em vez de só punir) faz mais diferença do que castigos severos
- Gritar, bater ou humilhar piora tudo — a ciência é clara nisso
- Remédios entram em cena apenas quando há outros diagnósticos associados (TDAH, ansiedade) ou risco imediato
O que ainda precisamos entender melhor:
- Como prever a evolução em cada caso específico (cada criança é única)
- Qual combinação de estratégias funciona melhor no longo prazo
- O peso exato da genética, especialmente considerando a nossa realidade brasileira
O que fazer na prática (sem precisar de superpoderes)
Em casa:
- Converse de verdade — não só quando há problema. Valide os sentimentos da criança, mesmo quando o comportamento é inaceitável. “Eu entendo que você está com raiva, mas bater não resolve.”
- Seja consistente — regras claras, consequências previsíveis. Hoje não pode gritar com o irmão? Amanhã também não.
- Anote o que acontece — quando, onde, o que desencadeou. Esse registro vai ajudar você (e os profissionais depois).
Na escola:
- Compartilhe informações — família e escola precisam falar a mesma língua
- Foque em reforço positivo — elogie os momentos bons, por menores que sejam
- Crie oportunidades para habilidades sociais — atividades em grupo, projetos que exijam cooperação
Juntos:
- Busque atividades que ensinem autocontrole — esportes, artes, jogos com regras
- Não espere o fundo do poço para pedir ajuda — quanto antes, melhor
Quando buscar ajuda profissional — e por que não esperar
Procure um profissional (psicólogo, psiquiatra infantil, neurologista) se:
- Os comportamentos acontecem com frequência e em mais de um lugar
- Causam sofrimento real — para a criança, para vocês, para os colegas
- Atrapalham o aprendizado ou as amizades
- Você já tentou estratégias em casa e na escola, mas nada muda
A avaliação não é um “carimbo” na criança. É o caminho para entender o que está acontecendo de verdade e montar um plano que funcione — com a participação de todos: pais, escola e profissionais.
Perguntas para você refletir agora
- Você tem ignorado sinais porque “é só uma fase”?
- Como você reage quando a criança mente ou agride — no calor do momento?
- Sabe onde buscar ajuda na sua cidade? Tem ideia de quais profissionais ou serviços estão disponíveis?
Conclusão — porque conhecimento transforma
O transtorno de conduta não é uma sentença. Com informação, apoio profissional e estratégias bem aplicadas, é possível mudar essa história.
Você, pai, mãe, professor, educador — faz diferença. Mais do que imagina. E buscar ajuda não é sinal de fraqueza; é sinal de coragem e compromisso com o bem-estar da criança.
Você não está sozinho — comece agora
Dê o primeiro passo hoje: comece observando, anotando, conversando. E se precisar de ajuda, não hesite. Compartilhe este conteúdo com quem também precisa dessas respostas — juntos, chegamos mais longe.
Advertência obrigatória
Este conteúdo é meramente informativo e não substitui a consulta a um profissional de saúde qualificado. Em caso de dúvidas ou necessidade de avaliação, procure um psiquiatra infantil ou outro especialista adequado.
Referências
SCOTT, S. Conduct disorders. In: REY, J. M.; MARTIN, A. (eds). IACAPAP e-Textbook of Child and Adolescent Mental Health. Edição em Português; DIAS SILVA, F. (ed.). Geneva: International Association for Child and Adolescent Psychiatry and Allied Professions, 2019. Disponível em: https://iacapap.org/_Resources/Persistent/cb0447f2f808c1913822e820278612df9f0ff6b7/D.3-CONDUCT-DISORDER-PORTUGUESE-2019.pdf


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